AUTOR: Dante De Rose
Os governos deveriam ter uma parcela significativa de participação no processo de criação de uma cultura esportiva.


Falar
em políticas para o esporte no Brasil é uma tarefa muito árdua.
Inicialmente porque o conceito de esporte ainda é algo que causa muitas
divergências mesmo entre aqueles que militam na área. Este conceito
muitas vezes se confunde com o conceito de atividade física ou mesmo da
tradicional educação física, praticada nas escolas de ensino fundamental
e médio.
Segundo De Rose Jr. (2007), “tradicionalmente o esporte
sempre fez parte da “área” Educação Física que abarca, até hoje, uma
série de atividades físicas como a dança, a recreação e outras
manifestações que não estão, necessariamente, ligadas ao âmbito escolar”
(p. 15).
A partir deste conceito, percebe-se que “atividade
física” é o grande guarda-chuva que congrega diferentes tipos de
manifestações que envolvam movimento. Esta afirmativa baseia-se na
definição de atividade física proporcionada por Barbanti (2003):
totalidade de movimentos executados no contexto do esporte, da aptidão
física, da recreação, da brincadeira, do jogo e do exercício.
Portanto
ao se falar sobre políticas de esporte temos que ter clareza do que
estamos abordando. Que esporte é esse? É o esporte sob o senso comum
(pelo qual tudo que se faz em termos de atividade física é considerado
esporte?) ou pelas definições que colocam o esporte como uma atividade
com características especiais, submetido a regras específicas, com um
componente competitivo inerente à sua essência e que visa um determinado
rendimento?
Parece-nos que as políticas esportivas no nosso país
transitam pelo primeiro aspecto. E isto acaba por criar muitas
incertezas do que realmente queremos ou necessitamos.
Quais nossos objetivos ao abordarmos as tais políticas? Podemos pensar em duas situações:
1
– um esporte realmente democratizado e que proporcione a um número
grande de pessoas a oportunidade de praticá-lo, mesmo sem o objetivo de
se tornar um grande atleta e
2 – no esporte voltado a resultados que levem o país a ser uma potência mundial, ganhador de muitas medalhas olímpicas.
No
primeiro caso, os governos (municipal, estadual e federal) deveriam ter
uma parcela significativa de participação no processo de criação de uma
cultura esportiva.
Isto passa, necessariamente pela ampla
divulgação do esporte como atividade possível de ser praticada em locais
de fácil acesso e pelas pessoas indistintamente, especialmente crianças
e jovens. É claro que prover essa necessidade demandaria algumas ações
que pudessem atender de forma adequada às expectativas dos praticantes:
espaços e materiais adequados e profissionais preparados para
desenvolver essas atividades.
No entanto, garantir espaço e bons
profissionais não parecem ser as únicas ações. Muito mais que isto,
seria fundamental a idealização de um programa que atendesse a essas
demandas.
Esse programa deveria ser estabelecido de acordo com alguns preceitos básicos:
- Democratização real: prioritário a crianças e jovens de forma generalizada, sem qualquer restrição
- Estabelecimentos de conteúdos pertinentes à prática esportiva geral e que respeitasse os níveis de desenvolvimento dos praticantes e características das culturas locais
- Formação de profissionais para ministrar essa prática. Criação de cursos complementares aos cursos superiores de Educação Física e Esporte, como por exemplo o curso de formação de técnicos esportivos
- Utilização de espaços como escolas, parques e centros esportivos
- Avaliação e acompanhamento do desenvolvimento dos programas ao longo do tempo e propostas de reavaliação e reorganização de acordo com as necessidades apontadas
De fato, alguns programas já existem. No entanto, a
grande maioria tem somente um interesse imediato para atender objetivos
eleitoreiros e que são modificados a cada novo governante que assume
seu posto, fazendo com que, constantemente, “reinventemos a roda”.
No
segundo caso, seria conveniente se pensar no desenvolvimento de uma
política esportiva de alto rendimento para transformar o país em um país
esportivo e não necessariamente uma potência esportiva, o que poderia
ser uma consequência deste pensamento.
Para ser potência, primeiro
temos que nos tornar um país praticante de esporte. Como querer nos
compara às grandes potências se o número de praticantes é pequeno e essa
prática é restrita a pequenos grupos em espaços altamente restritivos
(normalmente os clubes).
Caberia às entidades esportivas
(Federações, Confederações e Comitê Olímpico) prover recursos para o
desenvolvimento dessas atividades criando centros de formação e
treinamento para atuar da iniciação esportiva ao alto rendimento.
De
certa forma, as duas situações poderiam se complementar. Em um primeiro
momento uma ação governamental para incentivar a prática esportiva
geral e, concomitantemente, as organizações privadas atuariam na
captação dos possíveis talentos emergentes do primeiro.
Impossível?
Nada é impossível se pensarmos em projetos que possam transcender a
ambição política individual. Assim como em outras áreas (principalmente
saúde e educação), o esporte (e a atividade física – foco de outra
discussão) também deveria ser encarado como uma questão de políticas
públicas, mas sem se eliminar a participação das entidades privatizadas
na viabilização desses projetos.
Referências Bibliográficas:
Barbanti, V.J. Dicionário de educação física e esporte. São Paulo: Manole, 2003, 2ª. Ed.
De Rose Jr., D. O esporte como objeto de estudo: uma área a ser explorada. Corpoconsicência: vol.II, n. 1, p. 15-17.
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